21 de jun. de 2010

Uma em cada sete brasileiras já fez aborto, revela pesquisa

 

Uma pesquisa inédita divulgada no mês passado, coordenada pelos professores Marcelo Medeiros e Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB), aponta o perfil da mulher brasileira que já interrompeu a gestação. Ao todo, foram entrevistadas 2.002 mulheres, de 18 a 39 anos, em todo o país. Os dados revelam que uma em cada sete mulheres já recorreu ao aborto, que é considerado crime no Brasil. Mas o número muda para cinco (mulheres que interromperam a gestação) quando a faixa etária considerada amplia para entrevistadas de até 40 anos.

Por amostragem, segundo o levantamento, 5,3 milhões de brasileiras já fizeram aborto, sendo que 81% delas tornaram-se mães posteriormente. “Isso demonstra que é equivocada a análise de que a mulher que aborta não tem senso materno”, diz Medeiros.

Ao apontar o perfil das mães que abrem mão dos filhos na gestação, os pesquisadores da UnB desmistificaram outra falsa ideia: a de que a mulher que opta pelo aborto não possui vínculos familiares e religiosos forte. Estar casada e ter uma crença também são características comuns à maior parcela das entrevistadas. Conforme o estudo, 64% delas têm marido ou companheiro estável e 65% são católicas. “A mulher que faz aborto é a brasileira comum. É casada, teve filhos e tem religião. É aquela vizinha que todo mundo tem”, resume o coautor da pesquisa.

É nesse modelo que se encaixa Márcia que, ao engravidar, namorava um homem de 20 anos. Ocupando seu tempo com estudo e trabalho, ela diz que se viu acuada ao descobrir que estava grávida. “Não pude contar para minha mãe. Ela é muito religiosa”. No desespero, Márcia comunicou ao namorado a decisão de interromper a gestação e, a partir daí, deu início a um incansável trabalho de busca por métodos para solucionar o que, para ela, se tornou um problema.

Em poucos dias, recorreu a três tentativas de aborto. De início, comprou ervas, mas não teve o resultado esperado. “Meu namorado me pegava no trabalho na hora do almoço e íamos para a casa dele preparar o chá”, diz. Cada vez mais desesperada, ela conta que encontrou na internet a oferta dos remédios que a levariam ao aborto, mas, mesmo depois de gastar R$ 450 por seis cápsulas, recorreu ao método geralmente restrito a quem tem condições financeiras: procurou uma clínica de aborto.

Em pouco tempo, no entanto, descobriu que havia caído num golpe. Após depositar R$ 750, metade do valor do procedimento, a responsável pela oferta sumiu. Foi, então, num quarto de hotel que Márcia, após tomar as cápsulas, retirou o feto de seis semanas de gestação.

Mas nem sempre quem provoca o aborto tem a mesma sorte que Márcia de sofrer complicações após a prática. O levantamento da UnB apontou que metade das pesquisadas passou por internação após o aborto. “Isso mostra como é uma questão de saúde pública”, afirma Marcelo Medeiros.

Para ele, diante do resultado do estudo, a discussão sobre o aborto no Brasil precisa tomar outros rumos e não mais do ponto de vista moral e religioso. “Vamos colocar essas mães na cadeia? As pessoas precisam pensar sobre isso”. (Agência Estado)

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