10 de jun. de 2010

O comentário de Fernando Rocha

 

fernando Sem clima

Enfim, começou a Copa do Mundo na África do Sul. Mas, confesso, estou me sentindo meio perdido, como um peixe fora d’água, pois não conseguí até o presente momento, entrar no clima, me contagiar, como em outros mundiais no passado.

Nem mesmo o álbum de figurinhas, que ví numa banca de revistas, me interessou. Na minha infância colecionei muitos álbuns e os meninos da mesma idade trocavam as figuras repetidas de jogadores uns pelos outros ou se jogava “tapão” com os colegas na escola ou na rua.

Talvez essa minha indiferença seja a da maioria, pois não estou vendo as ruas pintadas, bandeirinhas penduradas, carros enfeitados de verde-amarelo, naquele oba-oba que é sempre muito gostoso de ver e participar, com a mesma freqüência de antes.

Quando a bola rolar terça-feira , 15:30, para o jogo de estréia do Brasil contra a Coréia, não tenho dúvida que vou torcer, xingar, sofrer, berrar e vibrar como qualquer outro, mas... está faltando alguma coisa.

Acho que encontrei a resposta num artigo muito bem escrito pelo jornalista Ruy Castro na “Folha de São Paulo”. Mineiro de Caratinga, radicado há muitos anos no Rio de Janeiro, Castro ficou conhecido no país inteiro ao escrever a biografia de Garrincha, que deu pano prá mangas. Disse ele, com muita propriedade, o que vem a ser hoje a nossa Seleção: -“As razões são muitas, mas o fato é que a seleção se divorciou do povo. Não é mais o Brasil. Reduziu-se a uma legião estrangeira que, mecanicamente, canta o hino antes do jogo.”

· Quando comecei na infância a me interessar pelo futebol, um dos principais atrativos que via na seleção era a oportunidade de torcer por ídolos que eu admirava, mas, infelizmente, jogavam em times adversários. Pelé, Gerson, Rivelino, Tostão, depois Falcão, Sócrates, Careca e por aí afora. Ver, por exemplo, Reinaldo e Zico tabelando, foi prá mim uma benção dos céus.

· Hoje, nem vou citar a baixa qualidade técnica do time atual, mas sobretudo acho que falta carisma à nossa Seleção e isso se deve muito ao fato da maioria dos jogadores não ter nenhuma história aqui, pois construíram suas carreiras em outros países, longe da sua pátria, sem que pudéssemos vê-los atuar.

· Então, sabe qual a ligação minha, a sua, com Felipe Melo, Josué, Michel Bastos, Maicon, Grafitte, Luís Fabiano e outros mais ou menos deste time dirigido pelo aprendiz de treinador, o Dunga? A resposta é ZERO, pois a minha, a sua identificação com o Josué e outros mais, é a mesma sentida em relação a um jogador qualquer da Eslovênia.

· Maicon pode ainda ser um ídolo da Máfia Azul, assim como Ramires, pois até bem pouco tempo atrás jogavam no Cruzeiro. Michel Bastos pode até ser ídolo lá em Santa Catarina onde jogou no Figueirense e a torcida são-paulina ainda deve se lembrar do Josué. Mas, vamos e convenhamos, nenhum deles está no patamar de ser reconhecido em todo o Brasil . E, se por um acaso, a gente cruzar com um deles por aí, não iremos reconhecê-los.

· Eis , portanto, o “x” da questão. Mas, deixa estar que na terça, estréia da Seleção Brasileira, as repartições públicas e as escolas estarão fechadas, os bancos vão mudar o horário de atendimento, as lojas cerram suas portas mais cedo, os hospitais não marcam cirurgias, enfim, o amor, o ódio, tudo é esquecido por noventa minutos, em nome de uma paixão, a nossa Sele-Pátria. (Fecha o pano!)

E-mail: bolaarea@yahoo.com.br

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