5 de set. de 2010

Brasil avança na pesquisa com células-tronco embrionárias

 

Apenas 12 anos após serem isoladas as primeiras células-tronco embrionárias humanas, cientistas de um laboratório particular dos EUA receberam autorização para iniciar testes com pessoas já em 2010. Trata-se do primeiro e único ensaio clínico no mundo até agora.

Pesquisadores médicos valorizam estudos com células-tronco embrionárias porque elas são matrizes que podem ser aplicadas em qualquer tecido do corpo. Além disso, eles esperam que as pesquisas levem a curas para o mal de Parkinson, para traumas na coluna vertebral e outras doenças.

Entretanto, apesar do rápido avanço da ciência, o uso de embriões humanos para pesquisa não é consenso entre outros setores da sociedade. Na última semana, a Justiça dos EUA proibiu o governo de financiar pesquisas com células-tronco embrionárias. O governo recorreu e aguarda decisão final.

No Brasil, a utilização de células-tronco retiradas de embriões congelados para fins de pesquisa foi autorizada com a Lei de Biossegurança em 2005. Mas somente em agosto deste ano o Supremo Tribunal Federal encerrou definitivamente uma ação da Procuradoria Geral da União que considerava aborto tal destino do embrião.

A Igreja Católica reclamou. A comunidade científica celebrou. “A questão já está encerrada no Brasil. Mas a polêmica revela a necessidade de mais informação sobre a área para a população”, diz Stevens Rehen, coordenador do Laboratório Nacional de Células-tronco Embrionárias, órgão ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e que produz as matrizes para pesquisas afins no país.

Segundo Rehen, a decisão estratégica do governo brasileiro de estimular a pesquisa com células-tronco (humanas, animais e embrionárias) mostrou-se “inteligente”, pois colocou o país em condições de igualdade com o resto do mundo. Desde 2005, dois editais do Ministério da Saúde investiram R$ 83 milhões em pesquisas com células-tronco que permitiram a instalação de oito institutos de tecnologia e a criação da Rede Nacional de Terapia Celular. Dos 98 projetos financiados pelo governo, cerca de 15% se referem a estudos com células-tronco embrionárias. Hoje, o Brasil é um dos cinco países do mundo, ao lado de EUA, Alemanha, China e Japão, a ter uma linhagem própria de células-tronco embrionárias.

“A rede é uma solução inteligente porque nos permite trocar rapidamente informações, diz Rehen, que acompanha atentamente a evolução da pesquisa norte-americana com humanos. “Esperamos que esses primeiros testes clínicos com humanos facilitem a compreensão sobre o assunto”.

Para o pesquisador, o Brasil já tem tecnologia para desenvolver seus próprios testes com células-tronco embrionárias em humanos.

“Hoje o Brasil está igual ao resto do mundo nessa área. Se os testes nos EUA forem bem-sucedidos, começaremos a fazer nossos testes de forma imediata”, diz o cientista.

Hospital de Belo Horizonte vai abrir um centro de tratamento

Deve começar a funcionar em 2011, no hospital Vila da Serra, o primeiro centro de tratamento com células-tronco de Belo Horizonte. A clínica fará cirurgia plástica estética reconstrutora com o uso de uma técnica inovadora na qual células-tronco adultas retiradas do tecido adiposo do paciente são utilizadas para a correção de problemas congênitos.

Segundo o cirurgião Sérgio Vieira, que firmou acordo com o GID Group, entidade internacional que desenvolveu a tecnologia, o centro aguarda a autorização da Anvisa para ser aberto. O médico explica ainda que não há qualquer implicação ética no procedimento. “Essa tecnologia não usa em momento algum células embrionárias, mas as de gordura do próprio paciente”, explica. (MF)

Regulamentação

Critérios estão sendo definidos

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve publicar neste ano um pacote de medidas que definirão os critérios para instalação, no país, dos centros de tecnologia celular, ou seja, as instalações de pesquisa que trabalharão com células-tronco. A regulamentação passou por um processo de consulta pública e está em fase final de análise.

“Esses laboratórios vão passar a ter uma licença sanitária. Vamos definir as características da instalação física, em que condições deve ser manipulado o material genético e como garantir a rastreabilidade desse material no país”, afirma Geni Neuman, gerente de Células, Tecidos e Órgãos da Anvisa. “Esse edital deve ser publicado em outubro”, completa.

Essa regulamentação será fundamental para a aplicação das técnicas em tratamentos clínicos no país. Márcia Motta, coordenadora geral de fomento à pesquisa do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, acredita que essas terapias serão realidade em pouco tempo. (Com O Tempo)

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